Ubiratan Brasil
Fãs dos filmes de arte, aqueles distantes dos blockbusters de Hollywood, sabem da importância da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo - foi graças à aceitação do evento pelo público que os distribuidores passaram a arriscar e a programar, por exemplo, obras do Irã.
Esse avanço se estende agora ao DVD, com a união da Mostra com a Livraria Cultura: juntos, criaram a coleção Cultura Mostra para lançar em disco filmes que foram sucesso em diferentes edições do festival. A primeira fornada, já disponível, é eclética e de bom gosto: o familiar "Horas de Verão", de Olivier Assayas; o abusado "Shortbus", de John Cameron Mitchell; o delicioso "Canções de Amor", de Christophe Honoré; e o minimalista mas muito divertido "Vocês, os Vivos", de Roy Andersson.
Com curadoria dos organizadores da Mostra, Leon Cakoff e Renata de Almeida, a seleção vai aumentar em pelo menos mais 20 títulos em 2011 e já estão confirmados o delicado "Hanami - Cerejeiras em Flor", de Doris Dörrie; o documentário "Os EUA Contra John Lennon", de David Leaf e John Scheinfeld; e o terror sueco "Deixa Ela Entrar", de Tomas Alfredson. Juntos, formam uma verdadeira salada cultural.
"Horas de Verão" conta a história de uma família que comemora o aniversário da matriarca. Ao lado dos filhos que moram fora, discute-se o legado do tio pintor, em torno ao qual há um culto do qual a mãe é a oficiante. Em seguida, a família reúne-se de novo para saber o que fazer com o espólio - pois a mãe morreu e a casa, os objetos, incluindo quadros e mobiliário do tio, aguardam uma definição.
Vinhetas
O filme chega em um momento crucial: memória tem valor? Reminiscências também percorrem "Canções de Amor", misto de musical e romance. Declaradamente inspirado em "Os Guarda-Chuvas do Amor", de Jacques Demy (o mais lírico dos autores da nouvelle vague), o filme de Honoré permite o confronto com a morte e a diversidade sexual na história do rapaz que perde a namorada, morta subitamente, e daí perde o rumo da vida. Parece triste, mas não é. Engraçado mesmo é "Vocês, os Vivos", que também trata da morte - o título, aliás, é uma fala dela.
São 57 vinhetas filmadas com câmera parada, em que personagens comuns vivem situações ordinárias mas que ganham um vulto extraordinário, beirando o surrealismo. Impossível não se identificar com ao menos uma das cenas. Já Shortbus traz o escândalo à coleção, pois contém cenas de sexo explícito.
Nada surpreendente quando se trata do diretor John Cameron Mitchell, que trata o sexo como um caminho para aprofundar temas que afligem seus personagens, como amor e medo. O filme acompanha os problemas de relacionamento enfrentados por uma terapeuta e seu parceiro, um casal de rapazes, um voyeur, entre outros. E o sexo, realizado em clima de paz e amor, desponta como caminho para a solução.(Agência Estado)
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