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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Poemas Selecionados

 
 
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Florbela Espanca
O MEU ORGULHO

Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera

Não me lembrar! Em tardes dolorosas

Lembro-me que fui a Primavera

Que em muros velhos faz nascer as rosas!

As minhas mãos outrora carinhosas

Pairavam como pombas... Quem soubera

Porque tudo passou e foi quimera,

E porque os muros velhos não dão rosas!

O que eu mais amo é que mais me esquece...

E eu sonho: ‘Quem olvida não merece... ’

E já não fico tão abandonada!

Sinto que valho mais, mais pobrezinha:

Que também é orgulho ser sozinha,

E também é nobreza não ter nada!

SAUDADES


Saudades! Sim... talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais doidamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!
ÓDIO


Ódio por Ele? Não... Se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto,
Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Com um soturno e enorme Campo Santo!
Nunca mais o amar já é bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!
Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda!
Ódio por Ele? Não... não vale a pena...




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